Problemas contábeis
A sabedoria convencional é que foram as práticas contábeis "inovadoras" e suas conseqüências que deram início à onda de perdas que derrubou o gigante da energia. A Enron entrou em colapso não tanto porque se tornou grande demais, mas porque foi percebida como muito maior do que realmente era em primeiro lugar. Ao descentralizar suas operações em numerosas subsidiárias e corporações de fachada, a Enron conseguiu ocultar enormes perdas derivativas que teriam interrompido seu crescimento muito mais cedo se fossem amplamente compreendidas. As empresas de capital aberto são obrigadas a divulgar suas demonstrações financeiras, mas as finanças da Enron eram um labirinto impenetrável de transações imaginárias cuidadosamente elaboradas entre ela e suas subsidiárias que mascaravam seu verdadeiro estado financeiro. Em outras palavras, as perdas foram mantidas fora do livro por empresas subsidiárias, enquanto ativos foram declarados.
Fallout De Fraude
Em sua opinião, esse cenário cor-de-rosa tornou a empresa a queridinha de Wall Street e conseguiu emprestar quase infinitamente e se expandir para o comércio eletrônico e outros empreendimentos questionáveis. Suas ações subiram literalmente, o que fez com que a remuneração dos funcionários e as aposentadorias na forma de opções de ações parecessem muito atraentes. Mas o que já eram consideradas práticas contábeis à margem de padrões aceitáveis acabou por se revelar completamente fraudulento. A desgraça afastou tantos negócios e criou tal responsabilidade para a firma de contabilidade Arthur Anderson que ela mesma foi forçada a sair do mercado. A essa altura, porém, o verdadeiro valor da empresa havia sido revelado e o preço das ações desmoronou, deixando os funcionários com opções e pacotes de aposentadoria sem valor. É claro que os executivos que entenderam a imagem real venderam suas ações antes do colapso e valeram bilhões.
Cultura de Gestão
É claro que o fiasco da Enron não aconteceu por acaso. Foi facilitado por uma cultura corporativa que encorajou a cobiça e a fraude, como exemplificado pelos operadores de energia que extorquiram os consumidores de energia da Califórnia. Em vez de se concentrar na criação de valor real, o único objetivo da administração era manter a aparência de valor e, portanto, o aumento do preço das ações. Isso foi exacerbado por uma cultura corporativa ferozmente competitiva que recompensava os resultados a qualquer custo. Algumas divisões da Enron substituíram até 15% de sua força de trabalho por ano, deixando os funcionários disputando qualquer vantagem que pudessem encontrar para justificar seu emprego continuado.
Tratamento preferencial
Embora a integridade interna da empresa permanecesse assim desafiada, a fachada era exatamente o oposto. A empresa alavancou conexões políticas tanto nas administrações de Clinton e Bush, quanto em Wall Street, para tratamento preferencial e o ar de legitimidade que permitia perpetrar suas fraudes. Nesse contexto, as práticas contábeis amplamente consideradas como a causa do colapso da Enron podem ser vistas apenas como um sintoma de uma cultura administrativa mais ampla que exemplificou o lado negro do capitalismo americano.